Trekking pelo Parque Lanin, em Junin e San Martin de los Andes, Argentina

A travessia Junin/San Martin de los Andes é um programa do projeto Huella Andina, que busca criar uma trilha de longo percurso de mais de 500km ao norte da Patagônia Arentina. O relato abaixo incluir oito “tramos”, totalizando 112.2km de caminhada, que foram percorridos em seis dias. A época, tive que excluir um nono tramo, de 20km, de Puerto Canoa até a base do vulcão Lanin. Na época, foi verificada atividade sísmica no vulcão, que foi colocado em alerta amarela e a trilha fechada.

A travessia tem início no portão principal do Parque Nacional Lanin, na agradável cidade de Junin de los Andes, chamado de Puerto Canoa, onde temos que tomar um bote para atravessar o lago Paimún. O trekking ainda passa pela Reserva del Parque Nacional y del Exército Argentino, em San Martin de los Nades.

Entendendo o parque

O parque Lanin é um dos maiores da Argentina, com uma área que se estende desde a cidade de Aluminé, onde é possível fazer outros trekkings, até Junin de los Andes, com o território costeando a divisa com o Chile.

Existem áreas livres e pagas para acampar, além de refúgios de gratuitos, todos devidamente sinalizados. Outra coisa importante de se ter em mente é que somente é necessário pagar para entrar em Puerto Canoa (250 ARG ou R$ 50). Os outros acessos são gratuitos (inclusive, você não vai pagar para entrar no parque se iniciar o caminho por Puerto Arthuro, o portão ao sul do parque).

Se você for fazer algum circuito mais longo, deve se registrar no Centro de Informes do parque. Quando fiz a travessia, era obrigatório avisar a chegada e saída sempre que passava por um centro de informes ou por uma guarita de guarda-parques.

Depois, 95% da trilha está muito bem demarcada com marcas azuis e brancas, mais atuais, e manchas amarelas, mais antigas. Basta seguí-las.

Como chegar

Junin de los Andes está a 200km ao norte de Bariloche e 382km de Neuquén. Se você estiver em Buenos Aires, deve primeiro ir até Neuquén, distante 1163km da capital da Argentina. O aeroporto mais próximo se localiza em San Martin de los Andes (100km de Junin).

Para Puerto Canoa, saem ônibus diários, duas vezes por dia, de Junin de los Andes. A partir do meio de fevereiro, a frequencia diminui para três vezes por semana (segunda, quartas e sábados), também duas vezes por dia. São duas horas de viagem de Junin até Puerto Canoa, ao preço de 130 ARG (R$ 26).

O trekking

1º dia: Puerto Canoa – Aila (10.2km)

O ônibus saiu às 9h de Junin e, pouco depois das 11h, estava em Puerto Canoa. Todo o ônibus foi pedir informações para a funcionária do parque e levei quase meia hora até conseguir me registrar. Depois, foram 20 minutos de caminhada até o local onde se faz a travessia para o outro lado do lago Paimun e, efetivamente, começa o trekking. O ponto é facilmente identificado por uma capela.

Toquei o sino e, cinco minutos depois, um senhor velhinho veio vindo com sua canoa buscar todos que estavam do outro lado. Ele cobrou 60 ARG (R$ 12) pela travessia. Depois de muito papo – o velhinho curte uma conversa – ele nos levou até o início da trilha e, com um pedaço de madeira, desenhou no chão a trilha e alguns pontos que deveríamos ter cuidado para não nos perdermos.

A maior parte do caminho é por dentro do bosque. A zona é muito úmida, com muito barro e arroios para atravessar, alguns por cima de pontes improvisadas com tronco. Foram três horas para vencer os 8.2km até a Población Aila, onde está o acampamento, que pode ser maior dependendo do quanto chover nos dias anteriores ao trekking.

Quase chegando no acampamento, a trilha sai do bosque e começa a baixar. Dali, pode-se ver o vulcão Lanin. É preciso ir até a Población e falar com algum morador para que ele faça seu registro. O camping fica a beira do lago Paimún e custa 50 ARG (R$ 10) por pessoa. O lugar é cheio de lebres, que ficam pulando de um lado para o outro enquanto se caminha.

Não tem banheiro, ducha quente, nem nada, mas o lugar é incrível. Dizem que ali é uma das vistas mais bonitas do vulcão. Infelizmente, as nuvens impediam que ele fosse visto nesse dia.

2º dia: Aila – Termas de Epulafquen (15.1km)

Mais um dia de caminhada por bosques. Foram, no total, pouco mais de seis horas em ritmo rápido. Depois de uma hora de caminhada, chega-se a uma área de pampa e um pequeno córrego onde, próximo, está um locomóvel, uma máquina muito antiga, parecida com um trem, que era utilizada para cortar lenha. Nesse ponto, você estará quase ao fim do Lago Paimún.

Em seguida, há dois cruzes de rio onde precisamos tirar nossas botas para atravessá-los. O segundo cruzamento é quase ao fim do aclive. Saímos da trilha e chegamos em uma estrada de terra, a Ruta 62. Nesse ponto, você está a 1km da fronteira com o Chile, no passo “Caririñe”! São mais uma hora de caminhada, agora em declive, até as Termas de Epulafquen. Para ver como está perto da aduana: uns 15 minutos antes de chegar no camping, você passará pelo posto de controle da Argentina!

3º dia: Termas de Epulafquen – Laguna Verde (15km com a trilha do escorial)

O camping da Termas é o mais caro do circuito – 200 ARG (R$ 40) por pessoa. Ao menos, tem água quente nos chuveiros e, principalmente, é possível tomar um belo banho nos poços termais. São três poços naturais e dois artificiais. Próximo ao camping, há uma casa de guardaparques onde é necessário avisar a chegada e a saída.

O dia será tranquilo, todo pela Ruta 62. Há diversos pontos em que você pode deixar a estrada e ir para a beira dos lagos Carrilafquen e Epulafquen. Ainda há duas trilhas costeando a estrada, uma que estava fechada quando fui por risco de desabamentos, que é a cachoeira formada pela ligação dos dois lagos. A outra, chamada de Sendero del Escorial, é uma trilha temática pela lava que escorreu há séculos do vulcão Achen Ñiyheu até o lago Epulafquen. Indo e voltando, tem cerca de 2km.

Quase chegando a Laguna Verde, se passa pela Laguna Toro (totalmente seca quando estive lá). O camping fica ao fim da Laguna Verde e custa 150 ARG (R$ 30) com água quente.

4º dia: Laguna Verde – Rincon de los Pinos (18,2km com o ascenço ao vulcão)

Se você quiser subir o vulcão Achen Niyheu, prepare-se para um dia bem difícil. Resolvi subí-lo e foram, no total, nove horas de caminhada. Primeiro, é necessário costear a Laguna até o escorial e entrar no bosque. São cerca de uma hora de caminhada até o “vale lunar”, chamado assim por causa do solo vulcanizado, que faz a área parecer com o terreno da lua.

Não esqueça de levar bastante água. A água do pequeno córrego que transpassa o Vale Lunar não é bebível por ser, até hoje, contaminado pelas cinzas da erupção de quatro séculos atrás. Às suas costas,você poderá ver, pela última vez, o Vulcão Lanin.

A subida ao topo do Achen Niyheu dura cerca de uma hora. Ele é totalmente de areia e, a cada passo para frente, você escorregará três para trás. Mas podem ter certeza que a vista lá de cima compensa e, para descer, é ir escorregando pela areia.

Ao seguir pelo Vale Lunar, tenha atenção redobrada nas marcações da trilha. Como não existem árvores nem pedras, em vários pontos a marcação é confusa ou desaparece. Logo, você começará a entrar em um bosque. São mais duas horas até chegar no refúgio de montanha gratuito, chamado de Rincón de los Pinos.

5º dia: Rincón de los Pinos – Lago Lolog (30.1km)

Seguindo o guia da Huella Andina, deveríamos caminhar, nesse dia, até Puerto Auquinco, em um ponto onde começa o Lago Lolog e há outro refúgio gratuito de montanha. Porém, fizemos o trecho em apenas três horas e decidimos seguir até Puerto Arturo.

O caminho do Rincón de los Pinos até Puerto Auquinco foi um tanto tedioso. Pampa que não acabava mais. Depois, seguindo em direção a Puerto Arturo, se entra em um bosque. Duas horas depois, se chega na beira do Lago Lolog. Aí, se passa por uma das zonas mais bonitas da travessia, chamada de Playa Bonita. E é logo depois da Playa Bonita que começa uma das partes mais difíceis, um trecho costeando o lago com acliveis e decliveis que chegam a 300 metros.

Chegamos a Puerto Arturo às 17h. O camping custava 170 ARG (R$ 34) e decidimos seguir para fora do Parque Lanin, atrás de uma alternativa mais econômica. Foram mais de 6km caminhando para não achar nenhuma alternativa.

Conversando com alguns moradores locais, nos disseram que é costume que se durma às margens do lago Lolog. Buscamos algum localzinho ali nas margens mesmo e estirei a barraca.

6º dia: Laguna Lolog – San Martin de los Andes (21km)

Depois de uma noite muito tranquila a beira do Lago, são mais uma hora e meia até a estrada que leva a Laguna Rosales, nome de um bairro de San Martin de Los Andes, e o Parque de la Reserva y del Exército Argentino. Segui cerca de duas horas por dentro do parque, até sair em uma estrada de asfalto, com um mirador para a cidade, e foi seguindo as marcas até me perder.

Acabei caminhando pelo bairro uns 10 minutos, sem conseguir encontrar onde seguia a trilha e acabei pegando a trilha principal em direção a cidade.

Dicas

– Toda vez que passar por uma casa de guarda-parque, antes de entrar e ao sair do parque, dê o aviso de chegada e saída;

– Cuidado com sua comida, principalmente nos refúgios. Deixe tudo pendurado em sacos hermeticamente fechados. Se for dormir em um refúgio, abra as portas e as janelas protegendo os olhos com óculos e o nariz com um pano e deixe o lugar ventilar por pelo menos 30 minutos;

– A água do parque é potável, menos um pequeno trecho de quatro quilômetros entre a Laguna Verde e o Vale Lunar;

Onde dormir em San Martin e Junin de los Andes

A hospedagem mais barata que encontrei em Junin de los Andes foi um lugar chamado El Rosal (Caye Chaco, 399), com camas a partir de 200 ARG (R$ 40). Já San Martin foi uma das cidades mais caras pela qual passei na viagem. Há um acordo entre os hosteis. Existem pelo menos uma dezena na cidade e todos cobram 350 ARG (R$ 70) a cama com um café-da-manhã bem meia boca.

E pra deixar essa viagem ainda mais completa, valer ler as dicas do que fazer em San Martin de Los Andes do blog Destinos & Afins!

Parque Lanin – Travessia Junin / San Martin de los Andes

Distância: 112.6km
Dias: 6 dias
Dificuldade: Média
Custos: 710 ARG ou R$ 142 (250 ARG entrada do parque; 60 ARG travessia do lago Paimún, 135 ARG ônibus Junin até o parque; 50 ARG camping Aila; 200 ARG camping Termas; 150 ARG camping Laguna Verde)
Trilha: Bem demarcada em 95% do caminho

Você também pode se interessar por:

– A trilha para o Fitz Roy, em El Chalten
– O parque Conguilio, na Patagônia Chilena
– O guia completo para os circuitos W e O em Torres del Paine

4 thoughts on “Trekking pelo Parque Lanin, em Junin e San Martin de los Andes, Argentina

  • agosto 31, 2018 em 2:29 pm
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    Muito grato por todas as informações disponibilizadas amigo!

    Apenas uma dúvida, os acampamentos feitos foram realizados com barracas próprias, ou há bases para hospedagem no decorrer do trekking? Grande abraço.

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    • outubro 9, 2018 em 11:50 am
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      Barracas próprias. Há dois refúgios grátis mais para o final da caminhada, que ficam abertos e necessitaria apenas de um saco de dormir, e refúgios pagos na entrada, nas termas e na saída do parque. Teoricamente, poderia fazer sem levar barraca, mas terás que caminhar mais daí

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  • setembro 28, 2017 em 3:58 pm
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    Meu velho, antes de tudo parabéns por essas incríveis aventuras. Certamente um desafio empenhado por muito poucas pessoas. Sempre nos surpreende encontrar alguém que se arrisca a desbravar o nosso mundo. Queria aproveitar para perguntar se tem como fazer um subida parcial do Lanin, com alguma agência. Não sei se sabe algo sobre isso.
    Novamente parabéns,
    Abraços
    Josmael

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    • setembro 28, 2017 em 4:44 pm
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      E ai Josmael, obrigado pelas palavras…

      Então, até a base do vulcão tu pode ir sem guia (10km de caminhada desde a sede do parque)…e tem como subir sim, mas precisa de guia aí…te aconselho a buscar uma agência em Junin de Los Andes, em San Martin ai sair mais caro

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