Trilhas pela Huella Andina em Aluminé

O principal motivo de cruzar a Argentina por Villa Peuhenia foi a Huella Andina, um projeto do governo que busca fazer uma trilha de longo percurso pelo norte da patagônia argentina. Quando cheguei, já sabia que os primeiros três etapas do circuito estavam desativados, mas queria verificar pessoalmente e já estaria perto de onde inicia o quarto tramo, em Aluminé.

A travessia Ñorquinco – Rucachoroy

A ideia era fazer a travessia até o lago Quillén, porém uma tempestade feia chegou no parque no segundo dia de trekking. O resultado é que fecharam todas as trilhas e fomos obrigados a desistir no segundo dia. E pelo que pude perceber, essa é uma prática comum nos parques da Argentina. Duas semanas mais tarde, em Villa Lago Mascardi, no parque Nahuel Huapi, tivemos que abortar outro trekking também por causa do tempo.

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Dia 1 – Ñorquinco a Vivac Pampa de Castro (17km)

O primeiro grande problema é chegar em Ñorquinco. Simplesmente, não existem ônibus. Então, a solução é ir para estrada, sair da cidade e meter o dedão, pois o lago fica a 60km de Aluminé. Depois de ser levado por um caminhão até o cruzamento que sai da estrada, um casal de turistas resolveu me levar até o parque.

Cheguei no centro de informes às 14h, sendo que o horário limite pra pegar a trilha é às 12h. Mas, depois de alguma conversa com ele e, depois, o guarda-parque que não queria me deixar passar (mas me deu, depois, todas as dicas do caminho e ainda permitiu que dormisse fora da área de acampar se a noite me agarrasse e me perdesse), foi permitido ingressar na trilha. Fiz o trajeto em quase 6 horas e consegui chegar com luz na Pampa de Castro.

O trecho inicial é uma estrada que leva até o lago Ñorquinco, passando por duas cachoeiras. Depois, é morro acima. Mais ou menos 40 minutos de caminhada às margens do lago, abandona-se sua orelha em uma encruzilhada e segue-se, sempre em aclive, para o sul.

Depois de passar por um bosque queimado, entra-se em uma floresta, cruzando vários cursos da água. Há uma subida muito íngreme e chega-se ao pampa. São mais 30 minutos de descida até o vivac. A área de acampamento está toda sinalizada. É permitido fazer fogo no local.

2º dia: de Pampa de Castro até lago Rucachoroy (15mk)

Há uma descida um pouco íngreme logo ao voltar para trilha, que depois se estabiliza. É só seguir pelo vale agora, pela estrada. Aí, tive um pequeno problema com a trilha e dei uma perdida. Cheguei num rio e tive que tirar as botas para cruzá-lo. Mais a frente, novamente é necessário cruzar o rio, porém há uma ponte feita por troncos.

O percurso foi feito em cinco horas e chegamos junto com uma forte tempestade. Existem dois campings, sendo o próximo da sede o mais barato. Inclusive, fazem preços melhores para mochileiros. Como a tempestade estava muito forte, pude ficar em uma cabana por ARG 200 (R$ 40).

Villa Peuhuenia

Villa Peuhenia é uma cidade muito pequena e bonita, a beira de dois lagos: Aluminé e o Monquehué. O início da Huella estava, realmente, fechado pela comunidade mapuche por cruzar um cemitério indígena e, no fim, foi uma das cidades mais caras que encontrei pelo caminho. Acabei passando uma num camping da cidade por caríssimos ARG 250, ou R$ 50 (ARG 100 por pessoa e ARG 150 pela barraca) e acabei seguindo para Aluminé de carona no outro dia.

Há dois ônibus saindo da cidade todos os dias, com direção a Zapalla, passando por Aluminé: um às 5h e outro às 00h. Acabei optando por sair da cidade de carona e foram cinco horas esperando até uma caminhoneta parar. Tive que tomar mais dois carros no caminho, mas cheguei em Aluminé às 18h, muito mais cedo que se tivesse ido de ônibus

Aluminé

A cidade é maior que Villa Peuhenia, mas ainda pequena. Ali que começa o Parque Lanin, que se extende ao sul até San Martin de Los Andes. Há dois hosteis na cidade com camas a ARG 250 (R$ 50). Não recomendo o que fica no centro, perto da rodoviária e se chama Catre Viejo, pois o dono tentou me roubar.

Há ainda diversos campings. Aluminé é um destino muito procurado pelos argentinos da região no verão, por ter uma boa estrutura a beira do rio que cruza a cidade. São três entradas para o parque Lanin: pelo lago Rucachoroi, a mais famosa, pelo lago Ñorquincho e pelo lago Quillén. Todas são gratuitas e é possível fazer um trekking de quatro dias entre eles, meu objetivo ao ir para a cidade.

Além disso, há dois campings gratuitos nas montanhas, ideal pra economizar uma grana.

Como chegar

Para Aluminé, partem ônibus de San Martin de los Andes, Zapalla e Neuquen. O problema acaba sendo o acesso aos lagos: as portarias Quillén e Ñorquinco não possuem transporte público. Já o acesso a Rucachorói possui ônibus operado pela empresa Al Bus, saindo duas vezes por semana, segunda e quarta, na baixa temporada, e ainda outros dois dias na alta temporada. Custa ARG 100 (R$ 20).

Dicas

– Há água por todo o caminho, a única exceção pode ficar pelo trecho entre a cascata de Coloco (após sair das margens do lago) e o Pampa de Castro. Em temporadas de seca, a última fonte de água em duas, três horas de caminhada pode ser o arroio logo após avistar a cascata;

– Em Rucachoroy, não esqueça de perguntar se fazem um preço melhor para mochileiros;

– É possível continuar a travessia até o lago Quillén, por mais dois dias, de onde se avista a face norte do vulcão Lanin. No parque, há mapas e informações sobre como continuar a travessia. A trilha é bem demarcada, segundo os guarda-parques.

– Não esqueça de fazer o registro de chegada e saída nos centros de informes das portarias principais, localizadas sempre nos lagos. Nesses setores, há também vendas para comprar comida e outros.

Travessia Parque Lanin Ñorquinco – Rucachoróy

Dificuldade: Fácil
Duração: Dois dias
Distância: 32km
Custos: ARG 200 ou R$ 40 (a entrada do parque é grátis, como o camping do primeiro dia. Não tive custos com ônibus pois fui de carona, mas o trecho custaria R$ 20).
Trilha
: Bem demarcada

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