Travessia de quatro dias pelos Lençóis Maranhenses

À medida que se caminha pelas dunas, o paraíso formado pelas lagoas de água doce dos Lençóis Maranhenses se revela. Um dos destinos mais procurados do nordeste brasileiro, o lugar intriga pela inconstância das suas paisagens, renovadas todos os anos pela ação das chuvas e do vento.

O impressionante conjunto de dunas, mangue e restinga se transformou no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses em 1981. Possui mais de mil quilômetros quadrados, com uma extensão, desde a costa oceânica ao interior, de 5 a 25 quilômetros. O rio Preguiças, situado a leste, nasce na região.

Neste artigo, contaremos nossa experiência de quatro dias, em que caminhamos 74 quilômetros pelo parque dos Lençóis Maranhenses. Falaremos sobre o trajeto, custo, quando ir, dificuldades que enfrentamos e tudo que você precisa saber para fazer dessa travessia uma experiência única! Vamos começar?

O trekking de quatro dias pelos Lençóis Maranhenses

A principal cidade de acesso aos Lençóis pelo leste é Barreirinhas, com uma estrutura bem prática de hospedagem, restaurantes e agências de turismo. Dali, pode-se pegar um barco pelo rio Preguiças até Atins, um paradisíaco vilarejo de pescadores com praias (quase) desertas, onde também é possível se hospedar. Já Santo Amaro, com algumas opções de pousadas e restaurantes, está a 2 quilômetros da entrada para os Lençóis pelo oeste.

A opção de fazer a travessia proporciona uma experiência completa do Parque. Através dela, é possível conhecer lugares exclusivos, onde o acesso por veículos não é permitido. Os pernoites e refeições são feitos nas comunidades locais, em pequenos oásis em meio ao “deserto”.

Contratação de guias

Apesar de a contratação de um guia não ser obrigatória, ela é recomendada pelo ICMBio. O lugar é pouco movimentado e fácil de se perder, além de não ter cobertura de celular na maior parte do seu trajeto.

Os guias, que cobram um valor diário, podem ser indicados pelas agências de turismo ou mesmo pelas pousadas. Você pode fazer a travessia guiada sozinho ou ingressar em um grupo, que costuma ter no máximo quatro ou cinco pessoas. Essa opção é bastante procurada porque permite a divisão do custo das diárias, já que esse valor não costuma variar de acordo com o número de participantes.

As próprias agências e pousadas podem ajudar na organização dos grupos, a partir do momento que você demonstrar interesse nisso e surgirem outros interessados. Outros hóspedes e viajantes são potenciais colegas de grupo, por isso não hesite em socializar.

Mapa da travessia

Dicas e Avisos

– Proteja-se do calor do sol e da areia. Use sandálias adequadas para caminhadas ou um tênis de sola leve; camiseta com mangas, para evitar queimaduras nos ombros; uma bermuda ou calça de tecido leve e um boné.

– O peso máximo recomendado para a mochila é pessoal, mas muitos aconselham que ele não passe de seis quilos. Se você precisar, pode despachar sua mochila em Atins ou Barreirinhas antes de iniciar o trekking e pegá-la em Santo Amaro, no final. O guia ou a pessoa que indicou seu contato poderão informar sobre isso.

– Leve uma lanterna, parte da travessia é feita de madrugada.

– Carregue pelo menos um litro e meio de água por dia. Compre antes da saída em Atins no primeiro dia, e nas comunidades no restante do trajeto.

– A única estrutura presente nos Lençóis é a das casas das famílias nativas. Lá, você vai ter opções de refeições, mas não conseguirá comprar lanches para as trilhas – o que vai ser essencial do segundo ao quarto dia. Garanta a compra desses lanches em mercadinhos em Barreirinhas ou no único e relativamente pequeno mercadinho de Atins. O mesmo vale para outros itens como filtro solar, repelente (não há muitos mosquitos, mas vale garantir), etc.

– Caixas eletrônicos e sinal de celular, só em Barreirinhas. Santo Amaro tem apenas uma agência bancária, a do banco Bradesco, e sinal das operadoras Oi e Claro.

– Os pagamentos ao guia e às comunidades (referentes aos pernoites e refeições) são feitos somente em dinheiro.

– O Parque, administrado pelo ICMBio, permite visitação em níveis de mínimo impacto. O acesso em veículos motorizados é restrito aos moradores das comunidades. Respeite e colabore com a preservação do local!

– As distâncias e durações descritas são estimativas e estão sujeitas ao período de visitação, já que a paisagem está em constante mudança e, consequentemente, as trilhas também.

1° Dia – De Atins à Ponta do Mangue

Atins é o lugar mais bonito para ficar hospedado. Há quem opte por passar uma ou duas noites aqui antes de partir para a travessia. A Pousada do Melo, a cinco minutos da praia, tem quartos para até quatro pessoas, preço acessível e um proprietário muito cordial.

Kitesurfistas em Atins.

De Atins à Ponta do Mangue são cerca de 7 quilômetros. Para evitar o sol forte, é recomendado que a saída seja feita muito cedo pela manhã, ou, como a distância desse primeiro dia é tranquila, no fim da tarde. A saída do vilarejo é um dos trechos mais cansativos aqui, pois a estrada tem a areia constantemente revirada pelos carros, o que a deixa muito macia. No restante do caminho, você segue por uma estrada de areia mais firme e por algumas dunas. Se tiver sorte, pode ser que alguma jardineira ofereça carona – nesse primeiro trecho, a circulação de veículos motorizados ainda é autorizada.

Como boa parte dos guias é natural dos Lençóis, é comum que, em algum momento, a hospedagem seja feita na casa da família deles. Se o seu guia for o seu Ribamar, isso deve acontecer na primeira noite. As acomodações costumam seguir um padrão: a energia elétrica é garantida por um gerador, que geralmente é desligado por volta das 22 horas; o quarto é uma construção bem arejada, com redes para dormir; o chuveiro não é elétrico, já que o clima da região permite; o café da manhã está incluso na taxa de hospedagem, e o almoço e janta são cobrados à parte.

O Canto de Atins, um pouco ao norte da Ponta do Mangue, é outro destino comum para passar a primeira noite. Essa escolha depende do guia que você contratar.

Dia 1
Distância: 7 quilômetros
Tempo de caminhada: 2 horas

2° Dia – De Ponta do Mangue a Baixa Grande

Nesse dia, prepare-se para madrugar: são aproximadamente 25 quilômetros até Baixa Grande. É provável que a sugestão do seu guia seja sair entre 3 e 4 horas da manhã. Logo se torna perceptível que a caminhada antes do sol nascer rende muito mais.

Nos primeiros quilômetros, boa parte da trilha é plana ou por dunas de baixas elevações. Depois de duas ou três horas de caminhada, pequenas e médias lagoas começam a ser notadas, e as dunas vão ganhando alguns bons metros de inclinação. Daqui até o final, a travessia vai seguir esse padrão. Não tente se esforçar para manter os sapatos ou as roupas secas, eventualmente, para evitar contornos desnecessários pelas dunas, você terá que atravessar algumas lagoas. Os trechos onde elas já estão praticamente secas são os melhores para caminhar, pois a superfície é mais firme.

À medida que o tempo passa, a paisagem impressiona mais. O número de paradas para tirar fotos e para descanso depende da sua disposição, mas lembre-se de aproveitar o máximo o tempo de caminhada com o sol ainda baixo. Deixe as paradas para o banho nas lagoas para depois das 9 horas, quando já estiver quente e você estiver mais perto de encerrar esse trecho.

Por volta das 11 horas, chega-se em Baixa Grande. A casa da dona Dete, um dos lugares onde se pode ficar, tem o pátio movimentado pela presença de bodes, porcos, galinhas e patos. Essa pequena criação de animais como meio de subsistência é bastante comum entre os moradores dos Lençóis.

A dica para o fim da tarde é acompanhar o pôr do sol nas dunas, a uns 15 minutos da casa.

Pôr do sol nas dunas em Baixa Grande.

Dia 2
Distância: 25 quilômetros
Tempo de caminhada: 8 horas

3° Dia – De Baixa Grande às Queimadas

Pátio da dona Dete. À direita, o redário.

Com 12 quilômetros a percorrer até as Queimadas, o segundo e maior oásis dos Lençóis, não é preciso acordar tão cedo. Por volta das 7 horas, retoma-se a travessia. Se você quiser aproveitar as lagoas por mais tempo, pode sugerir ao guia para sair mais cedo.

Entre três e quatro horas de caminhada depois, avista-se a primeira Queimada. Para economizar cerca de uma hora do trecho do dia seguinte, que é bastante puxado, o guia pode optar por pernoitar próximo à saída das Queimadas, na casa da dona Ana. Lá, você pode se refrescar em uma pequena lagoa da propriedade, bater um papo com a comunidade, e provar uns goles de uma bebida fermentada feita de cajá pela anfitriã, que também serve a fortíssima tiquira – uma aguardente de mandioca tradicional no Maranhão, herança dos índios da região.

Vista das Queimadas.

Aproveite esse dia para descansar e recuperar o fôlego para o final.

Dia 3
Distância: 12 quilômetros
Tempo de caminhada: 4 horas

4° Dia – Das Queimadas a Santo Amaro

O limite de horário recomendado pelo guia para a saída nesse dia é 3 horas da manhã. São cerca de 30 quilômetros até Santo Amaro.

Algumas das paisagens mais bonitas são avistadas durante esse percurso, uma delas logo após o nascer do sol.

Por volta das 10 horas, os rasantes agitados das gaivotas vão indicar que você está se aproximando de duas das lagoas mais visitadas dos Lençóis: a lagoa da Gaivota e a lagoa das Andorinhas, mais ao norte. É provável que você encontre outros visitantes aqui, já que os veículos motorizados estão autorizados nessa região. Se você preferir, o guia pode pular essa etapa e seguir por um trecho que economiza cerca de uma hora do trajeto final. Caso contrário, aproveite o banho para repôr as energias.

Lagoa das Andorinhas

As próximas duas horas seguem pelo sobe e desce das dunas. Com o sol mais alto nesse trecho final, a dica é se refrescar na passagem pelas últimas lagoas. Na saída do Parque, há uma estrada de areia de cerca de 2 quilômetros que leva ao centro de Santo Amaro.

Ao chegar, para espantar o calor, passe na sorveteria Quero-Quero e prove um sorvete de frutas locais, como o buriti. A cidade é pequena e não tem muita infra-estrutura, mas se você estiver com tempo, pode ser uma boa parar aqui pra descansar e ir a São Luís no dia seguinte. O restaurante Sol de Amaro serve pratos nativos deliciosos e tem, na parte de trás, um espaço agradável e informal com um bar, redes e vista para um rio.

Dia 4
Distância: 30 quilômetros
Tempo de caminhada: 9 horas

Lençóis Maranhenses – Roteiros alternativos

– É possível completar a travessia em cinco dias. Nesse caso, no quarto dia se caminha por cerca de 17 quilômetros da Queimada dos Britos até o povoado de Betânia, ao sudoeste. O lugar tem lagoas bastante visitadas. Após o pernoite na comunidade, segue-se por aproximadamente 12 quilômetros até Santo Amaro. É uma boa opção para quem tiver tempo e quiser distribuir a quilometragem final, além de acrescentar uma atração à travessia.

– Você também pode fazer o trekking no sentido Santo Amaro – Atins. Se essa for a sua opção, informe-se com antecedência sobre a contratação de um guia nas agências de turismo pela internet, já que em Santo Amaro será mais difícil encontrá-las.

E se ta indo pro Maranhão ou pro Piauí, que fica espremidinho ali do lado, não deixe de ler esse post sobre o Delta do Paranaíba do blog Destino e Afins, um paraíso que fica nas redondezas.

Como chegar

Para chegar em Barreirinhas, a transportadora oficial é a Rota Combo. Há saídas diárias de São Luís-MA, e nas terças e quintas, de Tutóia-MA e Parnaíba-PI. A outra opção para quem sai de Parnaíba é pegar um ônibus até Tutóia, e de lá pegar uma jardineira até Barreirinhas.

No porto do rio Preguiças, em Barreirinhas, você vai encontrar pessoas oferecendo transporte em lanchas para chegar a Atins. No caminho pelo rio, você pode pedir para parar em alguns pontos turísticos, como o farol de Mandacaru. Sem paradas, a viagem costuma levar uma hora e meia.

Farol de Mandacaru

Quanto custa o tour

O custo total por pessoa é de R$ 970, que inclui:

– transporte de barco Barreirinhas – Atins;

– 4 diárias do guia (valor integral, sem dividir entre um grupo);

– 3 pernoites com café-da-manhã.

Custos detalhados de transporte, hospedagem, guia e refeições

– O transporte pela Rota Combo varia de R$ 50 (saindo de Tutóia) a R$ 100 (saindo de São Luís-MA ou Parnaíba-PI). Já de Santo Amaro a São Luís, pode-se contratar um transfer nas pousadas por R$ 80.

– O valor da lancha de Barreirinhas a Atins pode ser negociado com os ofertantes, mas costuma ser no mínimo de R$ 50 por pessoa.

– A Pousada do Melo cobra R$ 120 o quarto para duas pessoas com banheiro privado e R$ 90 com banheiro compartilhado, ambas opções incluindo o café da manhã. O Wi-Fi, de sinal um pouco fraco, mas que funciona, pode ser usado por uma taxa diária de R$ 5. O restaurante Sarnambi, indicado pelo seu Melo, serve um PF delicioso por R$ 20,00.

– A diária do guia fica na faixa de R$ 200 para o grupo. Se você estiver sozinho, pode tentar negociar. Já se o número do grupo exceder o máximo recomendado de quatro ou cinco pessoas, é possível que o valor da diária seja aumentada.

– A taxa de hospedagem nas comunidades, incluindo o café da manhã, é de R$ 40 por pessoa. As refeições variam entre R$ 20 (omelete), R$ 30 (arroz, feijão, ovo e salada) e R$ 40 (inclui algum tipo de carne). Uma garrafa de 1,5 litro de água custa R$ 8, e a latinha de cerveja, R$ 5.

– O copinho com 100ml de sorvete na Quero-Quero sai por R$ 5, e os pratos no Sol de Amaro ficam na média dos restaurantes locais, cerca de R$ 60 para duas pessoas.    

Quando ir aos Lençóis Maranhenses

A melhor época para visitar os Lençóis é de junho até o início setembro, quando as lagoas estão mais cheias. Entre janeiro e maio, a época é de chuvas, e de setembro em diante, as lagoas começam a secar.

A temperatura média anual é de 26° com baixas oscilações, ou seja, faz calor o ano todo.

Julia Wagner

Trocando conforto por natureza.

9 thoughts on “Travessia de quatro dias pelos Lençóis Maranhenses

  • junho 22, 2021 em 10:14 pm
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    A travessia dos lençóis maranhenses é uma experiência inesquecível. São milhares de lagoas e dunas. Para que o passeio seja realmente inesquecível é essencial contratar um guia experiente, que vc possa confiar! Eu e meu marido tivemos a boa sorte de encontrar o Elivelton, nativo da região dos lençóis! Ótimo guia! Super indico!!! Faz um trabalho diferenciado! Vc pode contata-lo através do Instagram @lencoismaranhensestrekking (tel. (98) 88703894). Fizemos a travessia a semana passada. Voltamos ontem, estamos ainda anestesiados!

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  • fevereiro 12, 2021 em 2:32 am
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    Oi a todos, essa é minha primeira visita no website, e estou impressionado com o conteúdo, que é realmente muito interessante não só para mim, mas para todos que
    se interessam pelo conteúdo.

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  • fevereiro 6, 2020 em 3:46 pm
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    julia ou
    alguém foi q possa passar informações de quem Julia contratou

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    • fevereiro 18, 2020 em 10:53 am
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      Oi Mayra! O guia foi contratado no local, junto a pousada! Vais conseguir um preço bem melhor que contratando antecipadamente pela internet 😉

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  • junho 29, 2019 em 11:15 am
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    Excelente post Julia. Onde vc contrato esse pacote por R$ 970??, tem nome da agencia? estou pesquisando para fazer o trekking e ofrecem valores de R$ 1900, me parece excesivo. Obrigado pela info!

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    • fevereiro 6, 2020 em 3:47 pm
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      olá , Sabrina . vc teve resposta ? gostaria de sabem também

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