Quilombo dos Palmares, imperdível para quem vai a Maceió

Se você gosta de história e de conhecer outras culturas, pode colocar, sem medo de errar, o Quilombo dos Palmares entre as atrações que você precisa conhecer em sua viagem pelo Maceió.

Mesmo em meio a tantas praias incríveis, com piscinas naturais e um mar com incontáveis tons de azul, o Quilombo, localizado na Serra da Barriga, na Zona da Mata, é um dos pontos turísticos mais surpreendentes do Alagoas. Uma terra de liberdade e de sangue, que transborda energia.

Neste artigo, vamos contar como você faz para chegar em União dos Palmares, como é o passeio e o que você vai encontrar neste ponto turístico que ainda é pouco divulgado e cujas informações ainda são difíceis de encontrar na internet e até mesmo em Maceió. Nós, do A Pé no Mundo, fomos até lá e recomendamos!

Como chegar em Palmares

O Parque Memorial Quilombo dos Palmares fica na cidade de União dos Palmares, a 82 quilômetros de Maceió, a capital do Alagoas. Desde o Centro da cidade, é preciso percorrer mais nove quilômetros, subindo a Serra da Barriga, até onde fica o parque.

Por estar quase na divisa com o Pernambuco, também é próxima de algumas grandes cidades do Estado vizinho, como Caruaru (110km), de onde sai ao menos um ônibus diário todos os dias (R$ 31).

As principais formas de chegar no Quilombo desde Maceió são:

Tour – A maneira mais cômoda de fazer esse passeio desde Maceió é contratar um tour. Também consideramos a forma mais indicada: por ser realizada com um guia profissional, é uma verdadeira aula de história não só sobre o quilombo, mas também sobre as religiões de matrizes africanas, Alagoas, além da cultura e da culinária negra e indígena. O guia que nos acompanhou, o Nilo, deu uma verdadeira aula sobre o assunto. Com guia, o passeio fica entre R$ 65 a R$ 80, dependendo da localização do seu hotel.

Ônibus + taxi – É possível ir de Maceió até União dos Palmares de ônibus. Saem coletivos com frequência e a passagem custa R$ 15 o trecho. Depois, é preciso tomar um taxi até o parque, que vai lhe sair mais R$ 15 o trecho. Aconselho já fechar um preço para subir e descer, pedindo para o motorista lhe esperar, pois não há pontos de taxis desde o Parque. Se pretende ir de coletivo, dê uma conferida nos horários de ônibus entre Maceió e União dos Palmares.

Carro – Quem está em Maceió, deve tomar a BR-316 até o município de Satuba, onde segue-se pela BR 104. São 76 quilômetros ou 1h30 de estrada. Desde outros estados, o melhor trajeto é pela BR 104.

Tour pelo Quilombo dos Palmares

A única agência de Maceió que realiza o tour de forma regular é a Luck Receptivo. O passeio dura o dia inteiro e acontece todas as quartas-feiras. O grupo sai da capital do Alagoas bem cedo, pelas 7h, estando de volta pelas 16h30.

Como eu estava hospedado em um hotel que ficava longe do centro de Maceió, paguei R$ 80 pelo tour, mas é possível conseguir contratar o passeio por R$ 65 diretamente com a Luck (ou até menos, dependendo do tamanho do seu grupo e se contratar outros passeios junto). Ainda é preciso pagar uma taxa de R$ 70, que compreende as atrações artísticas no parque o almoço no restaurante Baobá Raízes e Tradições, da Mãe Neide.

Se você quiser economizar, é possível levar um lanche e negociar o abatimento do valor do almoço. Mas é uma oportunidade de provar pratos únicos e típicos da culinária indígena e africana, muito bem preparados e temperados com muito axé. Vale a pena!

Mãe Neide Oyá D’Oxum é uma Ialorixá (popularmente chamado de ‘mãe de santo’) reconhecida como um dos quatro “patrimônios vivos” do Alagoas. Seu trabalho vai muito além da parte espiritual, ganhando esse título por seus trabalhos nas áreas sociais e comunitárias. Tivemos a sorte de encontrar Mãe Neide quando estivemos no Boabá e entender porque ela é considerada referência quando se fala na preservação e difusão do patrimônio e da cultura afro no Brasil.

Como é o passeio até Palmares

A primeira parada do tour é ainda em Maceió, na praia de Cruz das Almas, ao lado de um monumento em homenagem a Ganga Zumba. Dizem que muitos navios de traficantes de escravos, ao serem interceptados por navios britânicos, lançavam as pessoas ao mar, cujos corpos vinham parar nessa faixa de areia. Na praia, elas eram enterradas e ganhavam uma cruz.

De Maceió até União dos Palmares, são cerca de 1 hora e meia, em que o guia conta como era a vida dos escravos trazidos da África e dos índios escravizados pelos portugueses em terra brasileira. Também fala sobre as religiões de matrizes africanas. Ainda faz algumas rápidas paradas, como em frente a uma gameleira (figueira) plantada em frente ao aeroporto Zumbi dos Palmares, o mais próximo de Maceió.

No parque de Palmares, são os berimbaus e os atabaques que recebem quem chega, além de um xequeté sem alcool (bebida de origem africana feita de erva doce, cravo, canela e gengibre) . Há apresentações de capoeira – arte-marcial que teria sido criada em Palmares – e o maculelê, dança que influenciou a capoeira. Frutas típicas da região também são oferecidas, mas essas vão depender da época que você vai estar por lá.

parque historico quilombo dos palmares

Pelo Parque, foram reconstituídas edificações importantes do assentamento, da mesma forma que foram erguidas há séculos atrás, com paredes de pau-a-pique, cobertura vegetal e inscrições em banto e yorubá.

Ainda é possível admirar a Zona da Mata e o Sertão através dos mirantes, que dão uma ampla vista da planície, e visitar a Lagoa Encantada, onde os quilombolas repousavam, saciavam a sede e afiavam suas armas e ferramentas.

Aqui, há uma das únicas gameleiras brancas do Brasil, que já foi vítima de dois incêndios criminosos e sobreviveu. Para quem segue as religiões de matriz africanas, a gameleira é a árvore primordial, a essência da criação, o poder da terra que ensina aos homens o sentido da vida.

Dicas para visitar o quilombo

  • Quando contratamos o tour, nos falaram que era necessário fazer uma pequena trilha, então já fomos preparados, de tênis de caminhada. No fim, não foi necessário caminhar muito e seria muito melhor ter ido de sandálias ou chinelos de dedo.
  • Leve muita água. Por mais que o clima na zona da mata seja um pouco mais ameno, faz muito calor e a desidratação é constante;
  • Não esqueça do protetor solar, óculos escuros e um chapeu ou boné;
  • No Quilombo, não há sinal de internet, nem aceitam cartão. Por isso, já vá com dinheiro em espécie. Quando fizemos o tour, o ônibus fez inclusive uma parada em um posto para quem precisava utilizar o caixa eletrônico. Se for o caso, confirme essa possibilidade ao contratar o tour.

Quanto custa o tour até o Quilombo dos Palmares

O transporte + guia desde Maceió, diretamente com a Luck Receptivo, custa entre R$ 65 a R$ 80, dependendo da sua localização. Orientamos que se contrate o passeio diretamente com eles, pois são a única empresa que faz tours regulares até Palmares e, sem intermediários, é possível conseguir um preço melhor.

Além disso, são cobrados R$ 70 pela taxa de utilização do parque, que inclui as apresentações artísticas, e o almoço no restaurante da mãe Neide. Também vale a pena levar um dinheirinho a mais para comprar algum artesanato ou bebida produzida no quilombo.

Quilombo dos Palmares: o que foi e o que restou

Do território que, há três séculos, serviu de refúgio para mais de 20 mil pessoas, entre negros, índios e até europeus, sobraram apenas 2,85 hectares, tombados como Patrimônio Histórico e transformados no Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Neste platô que teria sido fundado o mocambo Cerca Real do Macaco, o centro político de Palmares, liderado pela princesa Aqualtune, seu filho Ganga Zumba e mais tarde, seu neto Zumbi.

O quilombo era composto por vários mocambos localizados na divisa entre o Alagoas e o Pernambuco, assentamentos fundados por negros e índios que fugiam da escravidão. Esses assentamentos foram estrategicamente construídos no topo da Serra da Barriga, onde se tinha uma vista ampla de todo o território.

No Quilombo, todos eram aceitos, independente da crença, cor, gênero ou local de nascimento. Além dos indígenas que cultuavam a natureza, muitos homens e mulheres trazidos da áfrica e seus descendentes praticavam o islamismo. Ainda haviam cristãos, como holandeses e franceses que viviam nos mocambos.

Uma curiosidade era o poder das mulheres dentro do quilombo. Eram elas quem escolhiam seus pretendentes e podiam ter até seis maridos, de forma que a prole levava o nome e o legado da mãe. A princesa Aqualtune, inclusive, é considerada a fundadora do quilombo. Ela possuía amplo conhecimento militar e administrativo, tendo liderado um exército de mais de 10 mil homens no Congo, até ser capturada pelos portugueses.

Já Zumbi foi o último líder do Quilombo dos Palmares. Criado por padres jesuítas, ganhou o nome de Francisco e aprendeu português e latim. Ao fugir em direção a Palmares, afirmava que sua mãe era Sabina, filha da princesa Aqualtune. A própria Aqualtune teria se reunido com o jovem e dado a ele o nome de Zumbi, que em kimbundu significa “fantasma”. Por sempre lutar de máscara, ninguém sabe exatamente como era o rosto de zumbi, nem se ele teria mesmo morrido no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra no Brasil.

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Henrique Lammel

Jornalista e produtor de conteúdo

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