Nossa experiência na Huella Andina, o projeto que visa unir mais de 500km de trilhas na patagônia argentina

A Huella Andina começou a ser concebida pelo governo argentino em 2011, na tentativa de criar a primeira trilha autoguiada de longo percurso do país. A ideia é unir caminhos já existentes nos parques e reservas nacionais, organizando-os em etapas.

Cada etapa marca um lugar para dormir ou para comprar mantimentos. Muitas vezes, há alguma aldeia próximo ou cidade próxima a esses pontos, garantindo um contato mais próximo com as pessoas que vivem dentro ou próxima aos parques.

Tudo bem sinalizado (as marcas são totens com as cores da argentina pintados e fixados nas árvores) e sem exigir muito esforço técnico, permitindo o acesso a Huella a pessoas com pouca experiência em trekking e outros esportes outdoor.



Situação do projeto

A Huella Andina ganhou novas etapas até a temporada 2014/2015, quando contou com 42 trechos, espalhados por 570 km, e teve uma intensa divulgação pelos meios de comunicação do país. Estivemos na Huella Andina em 2017, fizemos os primeiros trechos em Aluminé e entre Junin e San Martin de los Andes.

O WikiExplora possui artigos com informações básicas, como a distância e dicas de cada uma das 42 etapas. () Também traz (poucas) informações sobre transporte público e outras formas de acesso às trilhas, que ajudam bastante na hora de planejar a logística.

Por onde passa a Huella Andina

A trilha começa, oficialmente, em Villa Peuhênia, uma pequena cidade cinco horas ao norte de Bariloche. Na prática, essa parte do trajeto está fechado pelas comunidades mapuches da região. O governo não teria honrado alguns compromissos com as comunidades.

Depois, segue por mais de 500km, cruzando três departamentos (como eles chamam os estados), passando por vários parques. O primeiro é o Parque Lanin, de norte a sul, até entrar em San Martin de los Andes. Por lá, toma-se um caminho até o outro lado do lago Lacár (com mais quatro dias de caminhada, é possível dar a volta pelo seu entorno).

Segue por Villa Angostura, onde entra no parque Los Arrayanes com a sugestão de se tomar um catamarã até Bariloche, onde continua pelo parque Nahuel Huapi. Passa por El Bolson e o Lago Puelo, terminando ao sul de Esquel, depois de Trevelin e do Parque Los Alerces.

Situação das trilhas

 

Praticamente todo o trajeto que fizemos foi por dentro do Parque Lanin. Não há o que reclamar dessas trilhas: todas são bem demarcadas e o cuidado, por parte dos guarda-parques, é constante. Perfeito para a proposta de ser autoguiada.

Por causa do tempo severo, é comum que árvores caiam e as pontes improvisadas pelo trajeto sejam destruídas com a passagem de alguma tempestade. Mas estava tudo em boas condições. O refúgio gratuitos que fiquei, mesmo sendo fim da temporada de trekking, estava limpo e bem cuidado.

As informações que tivemos é que todas as etapas feitas dentro dos parques vão permanecer bem cuidadas e sinalizadas. Alguns outros caminhos, como da Aldeia Escolar, estão sendo mantidos pelas comunidades. Mas não é uma realidade de todos os lugares.

Segurança

Os parques nacionais da Argentina tem uma política bem rígida quanto as condições climáticas e é comum que as trilhas mais longas fechem caso esteja prevista alguma tempestade.

Para fazer a Huella Andina, é preciso se registrar nos Centros de Informação dos Parques e fazer um check-in, geralmente ao final de cada trecho. Importantíssimo sempre se registrar nesses pontos, caso contrário vão sair a sua procura achando que se perdeu.

Infraestrutura

Fora os pães e as ‘tortillas’ que são feitas pelas famílias mapuches que vivem dentro do parque Lanin, quase não haviam comidas quentes. Quando encontramos, eram lanches rápidos, por preços abusivos. Itens em armazéns estavam com um preço mais justo.

Um dos grandes problemas é o acesso a alguns trechos. A Huella Andina ainda não está totalmente interligada. Algumas etapas terminam ou iniciam em regiões sem nenhum acesso a transporte público, um problema que se agrava fora da alta temporada de verão. Muitas vezes, esses acessos são longe das cidades e os argentinos cobram caro pelo taxi.

Fora isso, as trilhas, refúgios e campings dentro dos parques encontram-se em ótimo estado!

Desmobilização por parte do governo

Como todos os países da América do Sul, trocas de governo significam o abandono de alguns projetos. Na Argentina não podia ser diferente. As mudanças na presidência tiveram como uma das vítimas a Huella Andina.

Em Villa Peuhênia, fomos informado que a comunidade Mapuche da cidade tinha proibido a passagem pelo primeiro trecho. Também não nos aconselharam iniciar por Monquehue, onde seguiam os três trechos seguintes, pois não havia nenhuma manutenção há dois anos e se encontrava mal sinalizado, fácil de se perder.

Seguimos para Aluminé. O problema foi chegar na portaria do lago Ñorquinquo, pois não havia transporte público e os taxis cobravam uma fortuna, mesmo após muita negociação (a cidade é pequena e não existe Uber). Pelo traçado original, você chegaria lá após cinco dias de caminhada, desde Villa Peuhenia. Acabamos indo de carona. Chegamos na portaria tarde, pelas duas da tarde.

Já na parte sul do Parque, há ônibus diários, na alta temporada, saindo de Junin de los Andes.

Henrique Lammel

Jornalista e produtor de conteúdo

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